Eu gosto de ficção científica, adoro filmes como “Interestelar”, “Não olhe para cima” ou “A origem”, em que esticamos e desdobramos o papel do homem no mundo.
A ficção tem um papel no imaginário, na arte, na cultura.
Esta semana, porém, fomos bombardeados com algo que parece ficção, mas não é - o fenômeno dos “bebês reborn” no mundo real.
Estou seriamente assustado com isso.
Se, por algum motivo, você não sabe ainda o que é vou resumir aqui: São bonecas hiper-realistas que estão sendo utilizadas por adultos1.
Não vejo problemas em alguém não querer ter filhos, acho até corajoso o ato de ir contra o senso comum.
Não vejo problemas, também, em casos específicos de trauma, em que o médico utilize um bebê artificial para lidar com alguma questão.
Utilizar bonecos ou bonecas como item de coleção ou como brincadeira também pode ter seu lugar.
Porém, os casos que aparecem são sintomas de uma sociedade adoecida. Não podemos normalizar casos como:
Simulação do parto de uma boneca dessas2
Uso de um bebê reborn para acessar fila preferencial
Uma pessoa dizendo que não poderia trabalhar pois o bebê reborn “estava doente”
Casais em disputas judiciais pela guarda de um bebê reborn3
Padre tendo que se recusar a batizar um bebê reborn4
Pessoas procurando atendimento em hospitais para esses bebês5
Me lembro, na minha época de criança, do famoso Tamagoshi, quem não teve um?
Tínhamos que alimentar e cuidar, senão ele morria. Talvez até houvesse uma tristeza envolvida, mas tínhamos clareza da divisão do real para o imaginário.
Com a tecnologia estamos cada vez mais misturando realidade e ficção. A realidade é bem mais dura e menos maleável - certamente menos agradável.
Esse, para mim, é o grande incômodo. Me parece que tudo que não é real, tem mais valor. Parto de “bebês” falsos?! Um milhão de cliques. Disputa judicial para boneca?! Duzentas mil curtidas.
Em poucos anos a IA conseguirá que esses bebês interajam com pessoas. Me parece que estamos vivenciando o limite do que é o mundo real. Vivemos sob a ilusão de que o virtual é sempre superior, que a fala de um influencer vale mais do que nossa própria experiência. A praia da foto parece melhor que a da minha cidade. A moda nova do fulano de tal é a trend do momento. Daqui a pouco será o metaverso, realidade aumentada, persona virtual…
Essa fuga da realidade pode ter implicações graves.
Este é o único texto em que falo de algo que não vivo na pele, mas para argumentar sobre algo que tenho cada vez mais prestado atenção:
Necessitamos urgentemente voltar a ver valor nas coisas chatas. Na vida do dia a dia. Em sentir-se feliz por ter tido um dia comum.
Você, que será pai ou acabou de ser, tem um papel fundamental nisso, por duas razões:
(1) A vida cotidiana do pai de crianças pequenas é cercada de rotinas e afazeres chatos
Ao nascer um filho, grande parte da agenda vai para os cuidados novos. Apoiar a amamentação, dormir pouco, apoiar a mãe, trocar fralda, cortar unhas, fazer comida, lavar louça, arrumar a criança e passar perrengue para sair de casa.
A vida adulta já carrega muitos afazeres. Ao ter filhos só aumenta, e é isso aí. Ponto. O famoso “aceita que dói menos”.
Tem a ver com o que falo sobre “o momento que a ficha cai”. É importante viver a parte chata da paternidade, a parte que irrita, cansa e afasta do que é considerado “extraordinário”.
O perigo é ir acumulando frustrações perante as dificuldades sem entender a causa. Se já for de peito aberto ciente dessa parte pouco glamourosa, você estará mais preparado para a missão.
A proposta é reinventar o que é ordinário, dar valor esses momentos ‘chatos’.
(2) A melhor forma de fazer do mundo um lugar melhor é deixando melhores filhos para o mundo
Sempre fui um jovem com muitos sonhos, estudei sustentabilidade e adorava as pautas progressistas relacionadas a tornar o mundo um lugar melhor.
Quando, porém, me deparei com essa frase do título6 e outra do Jordan Peterson que diz “Antes de querer mudar o mundo, arrume sua cama”, fui apreciando a beleza do dia a dia.
A primeira frase, sobre deixar o mundo melhor por meio de filhos melhores, fala sobre o poder da paternidade e educação na mudança social. Pensei, por exemplo, nos meus pais. Nunca tinha considerado eles como ‘reformadores sociais’. Mas, ao formar um ser humano com valores e atitudes positivas, será que isso não é, por si só, uma grande revolução? Hoje enxergo que sim.
O Jordan Peterson traz também a questão de “antes de mudar o mundo, arrume sua cama”. Essa frase é de uma beleza assustadora. Como alguém poderia querer mudar o mundo sem sequer arrumar a própria cama? Absolutamente tudo começa em casa — do micro ao macro.
Uma vida ‘ordinária’, mas bem vivida, tem MUITO valor.
Talvez você não esteja antenado na última do ChatGPT, pode não ter feito a viagem que o influenciador mostrou ou ser sócio de uma startup, mas seu sucesso pode estar no dia a dia que passa embaixo do nariz.
O futuro parece precisar do passado:
Cuidar das plantas na varanda
Escutar seus filhos com calma e serenidade
Fazer um bolo e comer tomando um café sem pressa
Lavar a louça enquanto conta como foi o seu dia
Comer com todos à mesa
Jogar um jogo de tabuleiro
Essa volta ao passado, para mim, resgata valores de uma vida mais pausada, mais autêntica.
Talvez seja justamente essa vida comum — cheia de louça, afazeres e conversas sem pressa — que possa nos resgatar da histeria coletiva.
Eu realmente valorizo a liberdade e me sinto um pouco conservador ao falar dessas bonecas, mas vejo que estamos passando dos limites como sociedade e precisamos resgatar algumas crenças e valores.
Sempre fui muito liberal e progressista. Ser pai me tornou mais conservador? Não sei, mas me conta ai sua opinião sobre o tema.
Um abraço,
Pedro.
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https://www.cnnbrasil.com.br/lifestyle/bebes-reborn-entenda-o-que-sao-e-por-que-chamam-atencao/
https://www.folhavitoria.com.br/cotidiano/padre-se-nega-a-batizar-bebe-reborn-caso-de-psiquiatria/
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2025/05/17/bebe-reborn-chega-a-politica-com-projetos-contra-fura-fila-e-atendimento.htm
https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/brasil/bebes-reborn-tem-briga-na-justica-e-projeto-de-lei-para-proibir-entenda/
https://saude.abril.com.br/coluna/com-a-palavra/bebes-reborn-o-que-ha-por-tras-do-espanto/
Não sei a autoria, parece ser atribuída ao Clovis de Barros Filho