Em uma das ultrassonografias de Theo eu acompanhava bem animado, um tanto perdido ainda, devia ter lá umas 23 semanas de gravidez, a médica começou a passar o aparelho ultrassom e contar os dedos que estava vendo. Dizia ter já visto os cinco da mão esquerda, e contava os da mão direita.
“Ué, mas pode não ter um dedo!?” Pensei, ingenuamente.
Hoje sei que sim, e que os exames são, muitas vezes, para descartar o que foge da “normalidade”.
Essa foi a primeira vez que comecei a tomar ciência de que engravidar e dar a luz a uma criança saudável não é lá tão óbvio assim.
Por mais que eu tenha crescido ouvindo minha mãe contar das dificuldades na gravidez (envolveu um risco) e outras histórias, é como se “entrasse em um ouvido e saísse em outro”, eu nunca processei muito os assuntos relacionados à paternidade.
Ter filhos para mim era algo que parecia natural. Para mim, ainda saindo da adolescência, gravidez era algo praticamente certo se fizesse algo errado como contracepção. Menstruação atrasava, teste de gravidez, preocupação. Nunca deu em nada.
Até que o teste deu positivo, e comecei a, aos poucos, entrar nesse mundo.
Na gravidez do nosso segundo filho eu já estava mais ciente, já sabia que em determinada ultrassonografia era esperado, por exemplo, ver o coração batendo, e fazer as medições para ver o crescimento.
Preparamos os celulares, fomos juntos na sala apreensivos e animados. O médico olhou tudo, idade gestacional, tamanho do feto etc, mas nada do coração batendo. Segundo ele teríamos que esperar mais algum tempo e refazer para ter certeza da evolução. Esse médico esqueceu a humanidade dele fora da sala, não foi capaz de um mínimo de consolação para pais que estavam ali preocupados com a vida em desenvolvimento.
Poucos dias depois, a Julia (minha esposa), chorando copiosamente no banheiro, me avisou que tinha sofrido um aborto espontâneo. Eu nunca vi ela chorando assim. E espero nunca mais ver.
Tempos depois o nosso terceiro filho, o Vicente, veio e, dessa vez, super saudável, graças a Deus. Nós falamos terceiro filho pois temos dois filhos e um não nascido, que tem um lugar em nossos corações.
Como lidamos com o luto do nosso filho não nascido é um capítulo à parte que vale voltar depois. Hoje, quero falar sobre como é mais comum do que parece enfrentar dificuldades para engravidar ou manter uma gestação saudável.
Sem parar muito para pensar relembrei o caso que minha mãe conta que eu era gêmeo e tinha um irmão que não nasceu também - e eu nunca tinha levado a sério. Incontáveis casos começaram a aparecer também e comecei a perceber como realmente é uma bênção conseguir ter uma gestação saudável.
Conhecidos que enfrentaram síndromes raras, perdas gestacionais, dificuldades para engravidar, doenças uterinas ou até falhas na fertilização in vitro. Quando entrei nesse assunto, descobri que há uma dor silenciosa muito mais comum do que imaginamos.
É daquele tipo de coisa que basta abrir o assunto, e os casos aparecerão, bem mais próximos do que imaginamos. Eu não quero aqui trazer um texto triste, quero trazer a realidade.
Não estou aqui para dizer como lidar com situações difíceis, pois tive a sorte de ter os dois filhos nascidos com muita saúde.
Estou aqui para trazer um pouco mais de consciência para esse assunto para que, se for o seu caso ou de alguém próximo a você, saiba que não está sozinho.
Se está tendo uma gestação saudável, agradeça ao milagre da vida.
Se está passando alguma dificuldade, tenha meu sincero abraço e desejo que a sabedoria divina te apoie e guie.
Tem muita gente que cruza seu caminho todos os dias e carrega, em silêncio, dores profundas quando o assunto é filhos e gravidez.
Que possamos acolher, nunca julgar ou pressionar, ter empatia se o assunto surgir, ser ouvidos para quem precisar.
Um abraço fraterno,
Pedro.
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